É necessário nos mantermos atentos em relação às interferências ambientais no desenvolvimento de crianças e adolescentes, pois os diagnósticos de comportamentos disruptivos são cada vez mais frequentes.
Nota-se uma quantidade considerável de pais que buscam e profissional para lidar com essas situações, queixam-se das condutas inadequadas dos filhos e/ou recebem queixas de agitação e inquietude no espaço escolar, pouca concentração e, algumas vezes, baixo desempenho cognitivo.
Porém, antes de um possível diagnóstico, precisamos identificar se as crianças e/ou adolescentes não estão expostos aos fatores que interferem no processo de desenvolvimento, sendo alguns deles:
Falta de rotina/ausência de regras:
Esses elementos fornecem estrutura e previsibilidade, o que é essencial para o crescimento saudável e para construir habilidades importantes, como senso de responsabilidade, disciplina e autodisciplina.
Sem uma rotina sólida e regras claras, as crianças podem ter dificuldade em desenvolver habilidades básicas de autogerenciamento, como organização, gerenciamento do tempo e estabelecimento de metas. A falta de estrutura também pode levar a sentimentos de ansiedade, estresse e instabilidade emocional, pois a ausência de previsibilidade pode ser assustadora para os pequenos.
Além disso, a falta de regras pode comprometer a capacidade das crianças de entenderem e respeitarem os limites. Isso pode levar a comportamentos desafiadores, agressão e falta de empatia pelos outros. As regras ajudam as crianças a entenderem o que é esperado delas e a desenvolverem um senso de responsabilidade em relação às suas ações.
Diversos estudos e pesquisas apontam a importância da rotina e regras para o desenvolvimento adequado de crianças e adolescentes. Por exemplo:
1. Crianças e adolescentes que têm uma rotina estruturada têm melhor desempenho acadêmico e emocional. Os estudos de Ball y Pelligrini (1998) e Fuligni, Eccles e Barber (2005) mostraram que a rotina pode contribuir para o sucesso escolar e para o bem-estar emocional das crianças.
2. A falta de regras e disciplina está associada a um maior risco de comportamentos negativos, como consumo de álcool e drogas, delinquência e violência. Combining Parents' and youg Adults' Assessments of Hurtful Consequences Following Adolescent Misdeeds, um estudo publicado na Journal of Adolescence em 2010, indica que a ausência de regras claras está relacionada ao aumento de comportamentos de risco na adolescência.
3. A falta de regras também pode ter consequências negativas para a saúde mental. Segundo um estudo publicado em 2011 no Journal of Child Psychology and Psychiatry, a presença de regras claras está relacionada a um menor risco de sintomas de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes.
A falta de rotina e ausência de regras interferem significativamente no desenvolvimento de crianças e adolescentes. A estrutura proporcionada pela rotina e a clareza das regras são fundamentais para sua saúde emocional, comportamental e cognitiva.
Sono desregulado: O sono desregulado pode afetar negativamente o desenvolvimento de crianças e adolescentes de várias maneiras. Algumas das principais consequências incluem problemas de saúde física e mental, dificuldades de aprendizado e desempenho acadêmico comprometido.
Primeiramente, a falta de sono adequado nas crianças pode levar a problemas de saúde, como maior propensão à obesidade, diabetes tipo 2 e pressão alta. Estudos mostram que a privação de sono está associada a alterações hormonais que podem levar ao ganho de peso e a problemas metabólicos em crianças e adolescentes (Shin et al., 2018).
Além disso, o sono desregulado pode impactar a saúde mental das crianças, aumentando o risco de desenvolver problemas como ansiedade e depressão. Pesquisas sugerem que crianças com problemas de sono têm maior probabilidade de desenvolver problemas emocionais e comportamentais (Touchette et al., 2007).
No que diz respeito ao aprendizado e desempenho acadêmico, a falta de sono adequado pode levar a dificuldades de concentração, memória prejudicada e baixo rendimento escolar. Estudos revelam que adolescentes com sono insuficiente têm maior probabilidade de obter notas mais baixas e ter dificuldades de aprendizado em várias disciplinas (Wolfson & Carskadon, 2003).
Uso excessivo de telas:
O uso excessivo de telas, como smartphones, tablets, computadores e televisões, pode ter diferentes efeitos negativos no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Alguns desses efeitos foram pontuados por diferentes estudos e pesquisas.
1. Distúrbios do sono: A exposição prolongada a telas antes de dormir tem sido associada a problemas relacionados ao sono, como dificuldade em adormecer, sono agitado e distúrbios do sono, devido à luz azul emitida pelas telas que inibe a produção de melatonina, o hormônio do sono. (The National Sleep Foundation)
2. Desempenho acadêmico: O uso excessivo de telas pode levar à distração e diminuição da concentração, o que pode impactar negativamente o desempenho acadêmico das crianças e adolescentes. Além disso, o tempo dedicado às telas pode substituir atividades mais educacionais, como leitura e estudo. (Pasch, Heath, Mollenkopf, Laska 2013)
3. Sedentarismo: O tempo excessivo gasto em frente às telas está relacionado à falta de atividade física, o que pode resultar em um estilo de vida sedentário e contribuir para o aumento do risco de obesidade e doenças relacionadas (Biddle, Pearson, Ross et al. 2010).
4. Atraso no desenvolvimento social e emocional: O uso excessivo de telas pode interferir no desenvolvimento de habilidades sociais e de empatia, uma vez que a interação com telas é menos rica em estímulos sociais do que a interação com outras pessoas. Além disso, o conteúdo visto nas telas, como violência ou bullying, pode afetar negativamente o bem-estar emocional das crianças (Radesky, Schumacher, and Zuckerman 2015).
5. Problemas de saúde mental: O uso excessivo de telas tem sido associado a um maior risco de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, especialmente quando envolve o uso das redes sociais. Os jovens podem se sentir pressionados a se comparar aos outros e podem ser afetados negativamente pela intimidação e cyberbullying (Woods & Scott 2016).
É importante ressaltar que esses são apenas alguns exemplos de como o uso excessivo de telas pode afetar o desenvolvimento de crianças e adolescentes, e cada caso pode apresentar diferentes nuances e impactos específicos.
Contexto emocional:
O contexto emocional afeta significativamente o desenvolvimento de crianças e adolescentes, tanto no aspecto físico quanto no emocional. As experiências emocionais pelas quais am durante a infância e adolescência podem moldar a forma como elas se relacionam com as outras pessoas, como lidam com o estresse e como desenvolvem habilidades sociais e emocionais.
De acordo com Bowlby (1969), um dos principais teóricos do apego, um ambiente emocionalmente seguro e afetivamente acolhedor é essencial para que as crianças desenvolvam uma base segura para explorar o mundo e para formar relacionamentos saudáveis. Por outro lado, contextos emocionais instáveis, abusivos ou negligentes podem resultar em problemas de desenvolvimento emocional, como dificuldades de apego, falta de habilidades sociais e emocionais, ansiedade, depressão e comportamento agressivo.
Estudos também mostram que o ambiente emocional em casa pode influenciar diretamente o funcionamento do sistema nervoso autônomo das crianças e adolescentes. Por exemplo, experiências negativas crônicas podem levar a um desequilíbrio no sistema nervoso simpático-parassimpático, resultando em maior ansiedade e estresse crônico (Hostinar, 2015).
Além disso, contextos emocionais negativos podem influenciar o desenvolvimento do cérebro das crianças e adolescentes. Estudos de neurociência mostram que altos níveis de estresse e exposição a experiências traumáticas podem afetar a arquitetura e o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em áreas relacionadas ao processamento emocional e ao controle dos impulsos (Teicher et al., 2003; McEwen et al., 2012).
O contexto emocional tem um impacto significativo no desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Experiências emocionais positivas e relações afetivamente seguras são cruciais para estabelecer uma base sólida para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Por outro lado, experiências emocionalmente negativas podem resultar em problemas de saúde mental e dificuldades de desenvolvimento.
Acompanhamento familiar: A falta de acompanhamento familiar pode ter um impacto significativo no desenvolvimento de crianças e adolescentes. O e emocional e o envolvimento dos pais são fundamentais para o desenvolvimento saudável e o bem-estar dos filhos. Além disso, a presença de modelos positivos de comportamento e de valores familiares contribui para a formação da identidade e da autoestima dos indivíduos nessa fase da vida.
A ausência de acompanhamento adequado pode levar a uma série de consequências negativas. Crianças e adolescentes com falta de supervisão familiar correm maior risco de envolvimento em comportamentos de risco, como uso de substâncias ilícitas, envolvimento em atividades criminosas, sexo precoce e gravidez na adolescência. Eles também podem enfrentar problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e baixa autoestima.
Pesquisas têm demonstrado que a falta de acompanhamento familiar adequado está associada a resultados educacionais mais baixos. Crianças sem o apoio e o incentivo dos pais têm menos probabilidade de alcançar bom desempenho acadêmico, de desenvolver habilidades sociais adequadas e de manter comportamentos disciplinados.
Além disso, a falta de uma estrutura familiar estável pode prejudicar o desenvolvimento emocional e social das crianças e adolescentes. A ausência de relações estáveis e afetuosas pode levar a dificuldades na formação de relacionamentos saudáveis no futuro e contribuir para sentimentos de solidão e isolamento.
O tema é extenso e requer muita seriedade e compromisso da nossa parte, crianças e adolescentes precisam diretamente de todo nosso e para efetividade do seu desenvolvimento, desse modo nos mantermos atentos e fazermos os ajustes necessários é de nossa inteira responsabilidade. E, se porventura, os fatores citados já estiverem fluindo e mesmo assim os comportamentos inadequados permanecerem, é realmente o momento de buscar ajuda profissional, assim como nos casos em que tivermos dificuldades em acompanhar, entender e fazer os manejos adequados.
Fonte: Járede Sousa
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Edição:
Redação Diário de Balsas
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